sexta-feira, 21 de março de 2008

QUADRINHO VIRTUAL / PROFESSOR REAL

Resumo

O projeto propõe a construção de um portal na internet para capacitar professores da rede pública de ensino à distância, especializado na linguagem das Histórias em Quadrinhos, voltado ao sistema educacional, estruturado nos moldes acadêmicos de pesquisa científica de forma a dar condições plenas para conhecer, entender e usar as histórias em Quadrinhos na escola. Tal portal possibilitará o estudo, sanar dúvidas e atualização acerca do universo dessa linguagem artístico-literária.


Introdução

Para a mediação e motivação, de modo a que se auxilie a tomar gosto pelas aulas, sempre há algo ou alguém que possa auxiliar nesse processo. Ainda mais, quando esse algo ou alguém é conhecido, familiar, faz parte do “hall” de amizade e é admirado pelo aluno.
O fato de sermos seres sociais e gregários justifica a relação e identificação com parceiros. Percebe-se isso nas histórias de adolescentes que extrapolam seus limites, demonstrando atos de ousadia simplesmente por fazerem parte de um determinado grupo, como as gangs que se sentem invencíveis quando se reúnem. São exemplos parecidos com estes que mostram a importância da parceria como elemento encorajador. Porém, tais relacionamentos podem resultar de forma produtiva, o que dependerá do equilíbrio mediado pelo uso do conhecimento, dos objetivos, principalmente dos que fazem parte do arcabouço escolar acadêmico.
O mediador a que me refiro, pode ser um herói preferido, o personagem escolhido espontaneamente, presente no momento em que se deseja, vivendo juntos as maiores aventuras, ultrapassando limites diante de situações inusitadas, admirado e respeitado, travando diálogos, discutindo pontos de vista em comum.
Um companheiro assim, mesmo virtual, fortalecerá a relação do adolescente, ao se espelhar em sua bravura, dando confiança para encarar desafios reais. Esses personagens possuem, quase sempre, uma característica marcante que permeia o universo de cada um de nós e por isso nos lembramos dos heróis de infância estampados nas páginas das Histórias em Quadrinhos.
Tal envolvimento mostra o quanto é importante trabalhar essa relação no desenvolvimento da vida escolar, evitando um rompimento, prejudicial nesta fase que caracteriza o rito de passagem para a consciência adulta.
Neste caso, há o professor, e importante se torna sua presença para auxiliar neste encontro entre o aluno e seus heróis.
No respeito à individualidade do aluno, este professor mediador é o companheiro real unindo-se ao grupo, incentivando as relações do saber, das descobertas, cúmplice das histórias e aventuras dos e com os heróis, que os levarão a um mundo cheio de diversidades culturais.
O adolescente “ouve” e dialoga com seu herói e amigo, em contra-partida à linguagem escrita comum aos livros. O mediador real (o professor), consciente desta linguagem, dará continuidade a esse processo, no qual várias leituras estão presentes, cabendo a ele situá-las, romper as relações entre o adolescente e seu herói virtual, dando continuidade à jornada que instintivamente pode levar também ao encontro de outros grandes clássicos da literatura mundial.
Ampliando o círculo de amigos mesmo virtuais, mais heróis com outros anseios, desejos e novidades tornarão seu repertório cultural mais rico, dando subsídios para a reflexão, criatividade e visão de mundos diferentes.
O herói ou amigo virtual a que me refiro, está nas páginas das Histórias em Quadrinhos, velha conhecida de todos, que o adolescente lê tranqüilamente, identificando-se com este universo de fantasias, repleto de realidades.
O que atrai a atenção destes jovens? Serão as imagens, o dinamismo das figuras, a composição dos quadros, as linhas expressivas, a tipologia, a forma narrativa, os personagens cativantes, as onomatopéias, os balões, os splashs, todos juntos? Como expressão de arte, as HQ são necessárias, pois contribuem para a melhora do ensino, já que são artísticas e de conteúdo interdisciplinar, além de atuarem no hemisfério direito criativo (Andraus, 2006), sendo que o ensino tradicional pecou por usar textos racionais cartesianos exclusivamente, os quais incidem no hemisfério esquerdo, tirando a emoção, o prazer na aula, e afastando a atenção dos alunos.
Este projeto pretende propor e responder a muitas outras questões relacionadas ao mundo das Histórias em Quadrinhos, proporcionando o conhecimento necessário para o professor usá-las eficazmente em prol da educação, mediando e orientando numa jornada inter e transdisciplinar, dentro de um momento em que o sistema de ensino procura opções para melhorar sua qualidade e resolver o problema da evasão escolar.
O ensino precisa de arte (e subjetividade), pois o homem não é um robô: e assim, as HQ atraem e podem ser usadas já que despertam o interesse (como a própria Internet) com seus desenhos, possuem cor (geralmente) e trazem humor e emoção. E elas, as HQ, são cada vez mais usadas em escolas e indicadas pelo PCN e MEC. Mas ainda os professores não sabem usá-las, pois devido ao preconceito que ocorreu desde 1950 até 1970 e início de 1980, só agora elas estão sendo redescobertas como valiosas fontes de informação e diálogo com os alunos.A Internet, igualmente, é a mais nova fonte "colorida" que atrai a todos, principalmente os jovens: unir histórias em quadrinhos e Internet ao processo de ensinar sua linguagem na rede virtual da web será algo imprescindível, atualizado e bem interessante, pois vai ao encontro dos cursos de capacitação e outros, como os via EAD (educação à distância).


Objeto

O objeto da pesquisa é a linguagem das histórias em Quadrinhos, importante meio de expressão, divulgação, reflexão, educação, criação, informação, lazer e de comunicação de massa. Além de promover a língua portuguesa como língua materna, pode integrar nossa identidade, ajudando no processo de produção, recepção e interpretação.
Conforme alertam os PCNs:

Se a escola pretende estar em consonância com as demandas atuais da sociedade é necessário que trate de questões que interfiram na vida dos alunos e com as quais se vêem confrontados no seu dia-a-dia (2003, p. 640).

As HQs fazem parte da realidade cultural e seus temas são confrontados e percebidos no dia-a-dia.
O professor está em contato permanente, criando situações e procurando inovar, a fim de manter o interesse e obter a atenção dos alunos na sala de aula, o que não é tarefa fácil, já que a situação se complica durante o ano, ao tentar manter o ritmo dos 200 dias letivos. Adquirir novos repertórios o ajudará nesta empreitada.
Na escola em que leciono
[1], me deparo com colegas professores, solicitando orientações e sugestões para desenvolverem trabalhos usando as HQs com os seus alunos. Ao explanar sobre o assunto, falando dos gêneros literários, temas científicos, filosóficos, documentais, mostro álbuns como Maus de Art Spiegelman, sintetizando seu conteúdo, que explora a história (os campos de concentração da segunda guerra mundial), falo de Gen Pés Descalços de Keiji Nakazawa (e os sentimentos de um sobrevivente à bomba nuclear), os quadrinhos europeus, de tratamento mais artísticos, bem como de trabalhos feitos aqui por brasileiros, expondo também as facilidades em trabalhar e produzir hqs, sem a necessidade de saber desenhar; geralmente me deparo com expressões de espanto e a alegação do desconhecimento global, confessando só terem conhecimento do que presenciam nas bancas de jornais: A Turma da Mônica e os Super-heróis (situações estas constatadas nas escolas onde leciono).
No ensino superior, percebi o interesse de alunos da graduação de áreas distintas em se apropriar delas para contextualizar fatos históricos, geográficos, ideológicos e não ideológicos, gerando um grupo de estudos que teve a participação efetiva minha e do professor Dr. Gazy Andraus, ao palestrarmos em evento interdisciplinar promovido pelos cursos de História e Geografia (Geohistória) realizado na UNIFIG, Centro Universitário no qual somos professores.

“A escola perde a exclusividade de divulgadora do conhecimento, papel que hoje compartilha com os meios de comunicação – ela não consegue mais enxergar sua missão original, que é debater e realizar o bem comum e as políticas sociais, culturais e educacionais.” (Celso Favaretto – Nova Escola nº 207 novembro de 2007 – pg 38).

O potencial que os quadrinhos oferecem na área da educação, permeiam os temas transversais presentes nas HQs, onde cada história selecionada pelos professores, pode trazer diversidades culturais presentes, como nas páginas de Asterix mostrando a cultura romana, Tintin com paisagens muitas vezes desconhecidas da maioria dos educandos, o caipira na ótica de Chico Bento, o folclore da Turma do Pererê de Ziraldo, as atualidades das tiras de jornais com Laerte, Angeli etc.
Sendo um veículo de comunicação de massa (mas não só), se enquadra nos valores democráticos com respeito aos conhecimentos que são construídos pelo aluno como alguém capaz, expresso nos PCNs como conteúdos conceituais. Assim, as HQs ativam as capacidades intelectuais para operar com símbolos, idéias, imagens e representação de realidade.
Usadas em projetos interdisciplinares as HQs abrangem todas as áreas do conhecimento dando unidade aos saberes. A leitura da HQ é intuitiva, racional, estimula o uso da imaginação e dá prazer, trabalhando ambos hemisférios cerebrais: o do direito, com as imagens, e o do esquerdo, com os textos fonéticos (Andraus, 2006). Elementos que o professor pode usar, envolvendo o educando na busca do conhecimento.
A emoção permeia o universo das HQs envolvendo o ser humano, que é um ser complexo, conforme esclarece Morin (2000).
Nas suas narrativas gráficas, as HQs trazem temas, cujos valores se fundamentam na sociedade. O professor, ao trabalhar essas características deixando o aluno expor seu ponto de vista, suas escolhas, incluindo novos companheiros virtuais, de diferentes perfis, amplia seus horizontes aproximando e contextualizando a teoria com as práticas.
Porém, apesar de incentivo dos PCNs, e da aquisição de quadrinhos para bibliotecas de escolas do governo, é necessário que os professores apreendam a real utilização dos quadrinhos, explorando sua linguagem imagético-literária e contextualização nas necessidades humanas de ordem cultural.

Justificativa

Dessa forma, o portal com aulas virtuais terá o objetivo de suprir a falta de capacitação na linguagem das HQs dos professores que não estão usando ou não sabem usufruir deste meio de comunicação de massa encontrado em bibliotecas, livrarias, bancas de jornais e Internet. Se houver identificação dos alunos por algum personagem, já que o processo de leitura ocorreu, o interesse o levará a outra leitura, procurando com o tempo, personagens e histórias mais complexas, intercalando com os livros. Afinal, ambos existem para vários públicos distintos: infantil, juvenil e adulto, bem como em diversos gêneros literários, tais como ficção: terror, entretenimento, divulgação científica etc, como na maioria das linguagens conhecidas (cinema, música, teatro, pintura etc). O professor não pode ficar alheio às linguagens contemporâneas, nem excluir uma em detrimento da outra, pois todas contribuem para a construção da cidadania e dos saberes.
A informática - mais nova das mídias - faz parte do cotidiano e do mundo do trabalho, pois antes de ser um produto de mercado, é uma prática social, promovendo o desenvolvimento tecnológico dos países, visando a solução de problemas pessoais e sociais. Com a consciência e o uso crítico destas tecnologias, as conexões da rede virtual se multiplicam beneficiando as relações humanas, confirmando a necessidade para a qual foram criadas.
Com a chegada da TV digital, pretende-se migrar para esse veículo, aproveitando todas as potencialidades tecnológicas disponíveis no momento.
Ana Amália Barbosa, no livro Inquietações e mudanças no ensino de arte (Cortez, 2003, p.105), diz:

Quando aprendemos algo, aprendemos melhor ou fixamos melhor na memória se o relacionarmos a um evento, pessoa ou a outro conhecimento. Raramente as pessoas irão aprender sem fazer relações com conhecimentos já de antemão adquiridos.

Cada pessoa difere na percepção de informações: com as crianças e jovens não é diferente. Umas são mais visuais, outras mais auditivas e outras sinestésicas. Os Quadrinhos contribuem com essas maneiras especiais de aprender, ver e estudar.
Esta arte se encontra à disposição com um vasto material, fruto de pesquisas, espalhados pelas universidades do país. O projeto propõe interligar esses conteúdos catalogando num único portal virtual, acessado ao toque do mouse. Exemplos não faltam: atualmente, um projeto na área da faculdade de educação da Universidade Metodista de São Bernardo, conduzido pelo prof. Dr. Elydio dos Santos Neto propõe a produção por parte dos mestrandos, fanzines, materiais alternativos que estão atrelados aos quadrinhos e à Internet, e que vêm crescendo conforme também pude observar na 13ª Fest Comics
[2] (2007), num stand repleto de publicações independentes com boa qualidade gráfica. De forma similar ao livro, aos quadrinhos e ao Fanzine, existem os Blogs, Fotologs e comunidades, nos quais esses jovens criam e buscam informações imagético-textuais na Internet.
Este site de capacitação, ponto principal do projeto aqui em questão, estará sempre sendo atualizado e terá um “Chat” que permitirá aos professores escrever e tirar dúvidas.
O projeto pode também ser um piloto-experimental vinculado ao MEC ou ao governo, na questão da educação, auxiliando-o no momento em que precise adquirir material para as bibliotecas. Não basta comprar e deixar na escola, é preciso ensinar a usá-las e acima de tudo saber o que comprar. Para isso ele pode contar com a orientação de profissionais especialistas na área. No site, pode haver links, ou mesmo participação direta de especialistas e estudiosos como os núcleos de pesquisa. Num deles - do qual faço parte -, o NPHQ
[3] – Núcleo de Pesquisas em História em Quadrinhos da USP, podem ser encontrados artigos de pesquisadores, como do Prof. Dr. Waldomiro Vergueiro que organizou e publicou o livro “Como usar as Histórias em Quadrinhos na sala de aula”. Em outro, o blog especializado em quadrinhos do jornalista e Dr. em Letras Paulo Ramos, vê-se a notícia publicada em 1 de novembro de 2007 "Professor precisa ser alfabetizado em quadrinhos, diz especialista[4]", confirmando a necessidade de assistência adequada aos professores que querem usar histórias em quadrinhos, indicando a premência de se criar algum projeto nesse quesito, como é o caso desse portal em questão.

Hipótese

O ensino está desatualizado, haja visto as reportagens na ocasião em que o PISA
- programa internacional que mede o nível de ensino dos países - apontou o Brasil, como um dos piores do mundo neste quesito.
As Histórias em Quadrinhos e a internet são linguagens jovens e atualizadas, ideais aos adolescentes. Os Quadrinhos fazem parte da vida dos alunos facilitando o diálogo, gerando reflexões acerca dos temas universais abordados.
É sempre bom lembrar que o jovem é um ser ativo, inserido no mundo, dono de seus desejos, sonhos, necessidade de brincar, fazendo escolhas, tendo preferências e agregando valores. O que está à sua volta, deve ser encarado como objeto cultural. Aonde a criança vê recreação, lazer, brincadeira, o professor vê cultura, oportunidades, diversidades, aprendizagem.
O jovem tem necessidade de expressão, haja vista as intervenções encontradas nas paredes e muros espalhados pela cidade, com os grafites. Ele quer aparecer, criticar, gritar: os quadrinhos podem ser seu veículo de comunicação, sua válvula de escape, basta apresentá-lo e apontar o caminho.
Não só, a inteligência humana é neuroplástica, e ao sistema cartesiano imprescinde-se a informação artística promovendo a interação dos hemisférios cerebrais, como aponta Andraus (2006) em sua tese de doutorado.
Para que este ensino se atualize, o professor precisa conhecer, dominar e usar eficazmente as ferramentas atraindo o interesse e a atenção para obter bons resultados.
O projeto apresentará as ferramentas que são desconhecidas, sua importância, abrangência no mundo globalizado ensinando como usar as histórias em quadrinhos, isto aliado à Internet, promovendo uma ampliação do aprendizado, já que implica em uso coadunado entre as HQs e a rede virtual, cada qual com suas qualidades e especificidades. Dessa forma, com o portal, os professores se aprofundarão no tema, sanando todas e quaisquer dúvidas sobre o assunto. Portanto, a construção de um portal na internet para ensinar, apresentar, usar e entender os Quadrinhos, é essencial.


Objetivo principal

Este projeto pretende a construção de um portal especializado em HQs, voltado ao sistema educacional, estruturado nos conceitos acadêmicos de pesquisa científica, acessível 24h por dia, visando a formação de professores à distância permitindo-lhes o estudo e reconhecimento da linguagem das HQs, tirando dúvidas no momento que convier ao seu usuário. Isso dará condições plenas para conhecer, entender e usar as HQs na escola.

Objetivo secundário

Com o acesso inicial via Internet, escolhido pelo seu poder de alcance ilimitado, possibilitando o atendimento de um número elevado de professores num período de tempo reduzido, a tecnologia disponível permitirá conhecer o universo de professores comprometidos com a formação escolar, servindo de parâmetro para cursos futuros, podendo constatar ou não a precariedade do seu uso. Assim, há também a pretensão de localizar as produções de cada região do país, a fim de perceber o quanto a rede virtual pode alcançar.


Metodologia

Através de questionários e entrevistas em escolas do estado, especificamente no município de Guarulhos, pretendo diagnosticar o conhecimento do universo e linguagem das Histórias em Quadrinhos pelos professores da rede de ensino, para verificar seu entendimento ou não sobre os quadrinhos.

Com os dados obtidos dessa amostragem, será elaborado um portal na Internet com várias janelas distintas a fim de facilitar o estudo e entendimento dos elementos envolvidos na linguagem das Histórias em Quadrinhos.
Cada janela abordará um tópico específico indo desde o histórico resumido da:

-história das HQs,
-a estrutura da linguagem das HQs,
-denominações da HQ pelo mundo,
-diferença ou semelhança das Hqs para outras artes, (literatura, cinema, -teatro, música, pintura, escultura etc.),
-gêneros literários imagéticos,
-faixas etárias,
-HQs comerciais e autorais,
-estilos e gêneros de HQs (super-heróis, mangá, europeu, filosófico-ciesntíficos, cômicos etc),
-como ler e interpretar as HQ
-Como trabalhar HQ em sala de aula,
-Quadrinhos para quem sabe desenhar,
-Quadrinhos para quem não sabe desenhar,
-aula de desenho (direcionada às Histórias em Quadrinhos)
-criação de personagem,
-roteiro,
-atualizações de HQ lançadas,
-HQ de entretenimento,
-HQ de divulgação,

-títulos HQ e as disciplinas (direcionando títulos para as disciplinas regulares)
Pode haver interação entre os professores e pesquisadores, e suportes, dependendo da ampliação do portal. Em alguns dos itens acima, há a possibilidade de uso pelos alunos, tanto quanto pelos professores.
Muitos itens podem ser re-atualizados, inclusive pelos membros do NPHQ – Núcleo de Pesquisa em História em Quadrinhos – ECA USP, do qual faço parte como pesquisador.



Considerações finais

Desde os primórdios das civilizações, o homem vem contando a sua história, registrando nos mais diversos suportes suas idéias, comprovando sua vocação: de que somos seres narrativos. Gostamos de contar e conhecer outras histórias. Hoje esse fato é constatado pelo sucesso de audiência visto nos programas de tevê (BBB, Márcia, Gasparetto etc), pelos contadores de histórias que vêm se destacando, pela academia solicitando a história de vida com o Memorial, os comentários dos vizinhos, referente aos personagens das novelas, os próprios boatos ao serem reinterpretados. Tudo isso consolida a arte de contar história, informando, educando, emocionando, criticando, seja na linguagem sonora, corporal, verbal, visual, tátil, ou juntas, que totalizam a expressão comunicando idéias.
As histórias em Quadrinhos, assim como outros meios, estão cumprindo o seu papel. É necessário apresentar esse universo desconhecido para um número maior de espectadores que, como eu, não tinham acesso. Precisei de bastante pesquisa para conhecer HQ diferentes, com outras narrativas ricas em conteúdo, bem diferentes das que via nas bancas de jornais. Também percebi que o número de editoras nacionais publicando HQ de autores estrangeiros, mas igualmente brasileiros, está bem maior de poucos anos para cá. Isto é ótimo, pois vai ao encontro de se ter um portal que enfileire tais obras e as especifique e indique aos professores, ensinando a usar seu conteúdo e entendendo sua complexidade estrutural (embora aparente ser simplificada). Como um último exemplo, o autor Spacca lançou a HQ “Santô e os pais da aviação”, sobre os pioneiros da invenção dos aviões, obviamente com um viés mais próximo de Santos Dumont. Seu traço caricatural alegra a leitura, cheia de humor, mas totalmente baseada em pesquisa no assunto. Tal obra, inclusive, foi indicada e recomendada para uso em sala de aula pelo MEC. Porém, os problemas sabem do potencial da obra? Realmente conhecem o alcance que ela pode atingir?
As HQs trabalham os dois hemisférios cerebrais fundamentais para uma vida equilibrada. O equilíbrio entre a razão e a emoção, favorecem o desenvolvimento das habilidades necessárias a qualquer atividade humana, tanto física quanto mental, portanto, seu uso na educação no trabalho e no lazer são tão importantes quanto quaisquer outras fontes tradicionais de informação, até agora utilizadas pelo ensino.
É hora de expandir, e contribuir para isso.

Bibliografia

ANDRAUS, Gazy. As histórias em Quadrinhos como informação imagética integrada ao ensino universitário. Tese de doutorado. São Paulo: ECA-USP, 2006.

BAGNARIOL, Peiro. BARROSO, Fabiano. PORTELLA, Pedro. VIANA, Maria Luiza. Guia ilustrado de Graffitti e Quadrinhos. Belo Horizonte: 2004.

CIRNE, Moacy. MOYA, Álvaro. D’ASSUNÇÃO, Otacílio. Literatura em Quadrinhos no Brasil. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 2002.

EISNER, Will. Quadrinhos e Arte Seqüencial. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

EISNER, Will. Narrativas Gráficas. São Paulo: Devir, 2005.

FAZENDA Ivani. Práticas interdisciplinares na escola. São Paulo: Cortez,1993.

IANNONE, Leila Retroia, IANONNE, Roberto Antonio. O mundo das Histórias em Quadrinhos. São Paulo: Moderna, 1996.

JONES, Gered. Homens do amanhã. São Paulo: Conrad, 2006.

JUNIOR, Gonçalo. Guerra dos Gibis. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

MCCLOUD, Scott. Desvendando os Quadrinhos. São Paulo: M. Books,2005.
LUYTEN, Sonia Bibe. Mangá o poder dos quadrinhos japoneses. São Paulo: Hedra, 2000.

MCCLOUD, Scott. Reinventando os Quadrinhos. São Paulo: Makron Books, 2003.

MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Brasília/ São Paulo: Unesco / Cortez, 2000.

RAMA, Ângela (org), Waldomiro Vergueiro (org), Alexandre Barbosa, Paulo Ramos, Túlio Vilela. Como usar as histórias em quadrinhos na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2004.

[1] E. E. Coronel Ary Gomes
[2] Feira comercial de quadrinhos, promovida por uma livraria especializada de São Paulo, a Comix.
[3] http://www.eca.usp.br/nucleos/nphqeca/nucleousp/home.asp
[4] blogdosquadrinhos.blog.uol.com.br

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