sexta-feira, 21 de março de 2008

HISTÓRIA EM QUADRINHOS - DIÁLOGO COM AS ARTES





















Uma análise da Graphic Novel Demolidor – Amor e guerra – 1986
De Frank Miller (texto) e Bill Sienkiewicz (desenhos)
Denis Basílio de Oliveira



1 - Introdução
Uma das grandes vantagens das histórias em quadrinhos é a sua facilidade de manuseio e acessibilidade
Sua composição básica é o quadrinho, que por sua vez compõe-se de texto e imagem.
As HQ podem ser apresentadas em revistas de bancas, de vários tamanhos, ou então na forma mais sofisticada de álbuns. Há um meio termo: as graphc novels, este último, que será objeto de estudo aqui (graphic novel Demolidor de 1986).
O objetivo deste trabalho de pesquisa é fazer uma analise, comparação e relação das imagens da revista com movimentos artísticos contemporâneos.
O personagem Demolidor estava decadente, sem prestígio, quando a editora Marvel resolveu entregá-lo nas mãos de Frank Miller a criação do texto, (que havia feito antes tanto o texto quanto os desenhos) e a Bill Sienkiewicz os desenhos. O resultado desse encontro foi a Graphic Novel “Demolidor – Amor e Guerra” em que as aventuras do super-herói são abordadas de maneira nada convencional, bem como os desenhos dos quadrinhos, que são nesse momento, o objeto de estudo e análise, dado as suas qualidades técnicas e artísticas.
Analisando as artes de Bill Sienkiewicz, provavelmente encontraremos alguns paralelos com movimentos artísticos importantes da arte contemporânea, bem como artistas renomados, mostrando porque a história em quadrinhos é uma categoria de arte que faz parte do calendário dos museus, (que a legitimou), sendo uma das formas visuais criadas pela humanidade de maior produção em se tratando de quantidade, existente em diversos países. A HQ faz parte da história da humanidade desde o tempo em que os homens se comunicavam utilizando desenhos e elementos gráficos para retratar suas aventuras pela terra. Para alguns já pode ser a primeira história em quadrinhos de que se tem notícia, passando pelos hieróglifos do Egito, até chegar a Revolução Industrial que foi uma alavanca necessária para a popularização e discussão, sem esquecer da invenção dos tipos móveis por Gutenberg em 1450, dando início a uma nova era da civilização.
Ainda existe uma polêmica sobre qual país é o criador das histórias em Quadrinhos e o Brasil, está no meio, para reivindicar a paternidade que, por enquanto, é dos Estados Unidos da América, com o seu personagem “Yellow Kid” criado no ano de 1896.
Para contestar, o Brasil tem um trabalho realizado por Ângelo Agostini chamado “Nhô Quim” produzido em 1869, portanto 27 anos antes e pode ser visto facilmente em bibliotecas ou adquirido em lojas especializadas, pois foi relançado em álbum de luxo, devido a sua importância histórica.
As HQ’s oferecem entretenimento, jogo, fantasia, informam, formam, educam, exercitam a criatividade é um incentivo à leitura, porque é uma mídia impressa como o livro e através do manuseio e do contato constante pode criar o hábito e uma intimidade que pode ser transferida para o livro.
As crianças gostam e lêem quadrinhos; justificativa e motivo para os educadores conhecerem e estudarem esta manifestação literária e artística que influencia, distrai e educa. Mas há HQ estritamente para o público adolescente e adulto também, como é o caso desta graphic novel do demolidor.
Este projeto objetiva também refletir sobre a arte como conhecimento, fruir as formas artísticas e também o fazer artístico. Sua própria estrutura de uma arte seqüencial é um capitulo interessante. As HQ’s unem texto e desenho, focando apenas um quadrinho, que é o principal elemento para compor a HQ. Encontramos em seu interior várias linguagens distintas: o balão, texto, onomatopéias, as linhas representando movimentos, trajetórias, os personagens, a diagramação, as técnicas e os estilos. É um trabalho que pode ser feito individualmente ou em grupo.
Portanto conhecer esta linguagem irá facilitar em muito o ensino e a aprendizagem de jovens do ensino médio que já mantém contato direto com esta arte que faz parte do seu tempo.
Compreender a linguagem das histórias em quadrinhos como apoio ao ensino, visto que os principais conceitos das artes visuais estão embutidos na produção dos quadrinhos, é um material reproduzido e consumido em larga escala, portanto acessível. Os fãs terão mais um material de consulta específico, bem como os admiradores e apreciadores de cultura e arte.
Arte é atitude, mostra formas diferentes do que já foi feito, o artista vai ao encontro com as expectativas, quando o público se acostuma com o seu jeito, com o seu trabalho, ele muda, ele choca, ele radicaliza. Artistas Plásticos também migraram para esta manifestação artística contemporânea, como é o caso de Bill Sienkiewicz que realizou os desenhos da Graphic Novel Demolidor – Amor e Guerra, usando-as como ferramenta narrativa. Nesse trabalho podemos conhecer sua força expressiva.
A HQ é uma forma de comunicação de massa e está presente em quase todos os países. Desperta o interesse de centenas de milhares de pessoas, crianças, jovens, adultos, sociólogos, professores, antropólogos, historiadores, como uma grande manifestação artística, que atingiu maturidade gerando obras primas.
Hoje, recebe atenção de todos, é aceita por suas características próprias, analisada por sua especificidade e impacto na sociedade de consumo. Mas ainda precisa ser melhor estudada e reconhecida, principalmente em seu potencial para o público adulto e seus gêneros literários.
É usada para a transmissão de conhecimentos específicos, além de entretenimento.
Na união habilidosa das artes plásticas e da literatura, está o potencial expressivo desse veículo, que tem uma linguagem complexa de pensamentos, sons, ações e idéias, dispostas em seqüência lógica, comunicam idéias e contam histórias por meio de palavras e figuras.
Este trabalho de pesquisa pretende mostrar que é perfeitamente possível usar as histórias em quadrinhos de forma didática, reconhecê-la como uma importante forma de Arte, e compreender um pouco a história da arte e os seus principais movimentos artísticos contemporâneos.

1.2 – UM BREVE COMENTÁRIO SOBRE HISTÓRIA EM QUADRINHOS
A história em quadrinhos é uma manifestação artística reconhecida como a música, o teatro, o cinema, fotografia e tantas outras, surgida a mais de cem anos, permite que seus autores comuniquem e expressem questões científicas, filosóficas e artísticas, é uma forma de entretenimento e lazer de fácil compreensão e acesso.

2 – BILL SIENKIEWICZ E FRANK MILLER
Bill Sienkiewicz nasceu em 03 de maio de 1958 na cidade de Blakely, Pennsylvania. Foi um dos mais importantes artistas de quadrinhos da década de 80. Formado na Newark School of Fine and Industrial Art, desenha quadrinhos desde 1978. Seus primeiros trabalhos nas grandes editoras foram Moon Knight (Cavaleiro da Lua), Fantastic Four, News Mutants e a adaptação do filme Duna, todos para a Marvel. Seu estilo inicial em Moon Knight e fantastic four era calcado no de Neal Adams, tendo se modificado em new mutants. O primeiro trabalho a ser um laboratório para o que seria o seu traçado tão particular e estilizado foi a revista New Mutants (Novos mutantes) onde fazia também as capas. Talvez por esse requinte visual tenha sido escalado para trabalhar com o roteiro de Frank Miller que ganhou muita fama com o seu Cavaleiro das Trevas na DC comics. Dessa parceria saíram duas revistas luxuosas: Demolidor - Amor e Guerra e Elektra-Assassina.Com o sucesso de Elektra Assassina, Sienkiewicz lançou Stray Toasters, que, infelizmente, não fez o sucesso merecido entre o público. Nos anos seguintes publicou: Moby Dick, Voodoo Child, biografia ilustrada de Jimmy Hendrix, Brought to Light, com Alan Moore, que contava algumas "sujeiras" do governo dos EUA no apoio às ditaduras na América Latina e Big Numbers (este, um projeto abortado no número dois por divergências entre Moore e Sienkiewicz). Seus trabalhos mais recentes foram ilustrações para o site http://www.whatisthematrix.com/, e seu próprio site http://www.sienkiewicz.com/. Bill Sienkiewicz é um mestre da arte expressiva e traços marcantes. Sua impressionante habilidade para desenhar e colorir lhe assegurou um lugar de destaque na história dos quadrinhos. Sienkiewicz já ganhou todos os maiores prêmios da área, inclusive o Eagle, Inkpot, Kirby e o Yellow Kid, além de diversas menções da sociedade dos ilustradores dos Estados Unidos. Entre suas obras vencedoras estão Elektra Assassina, Stray Toasters e Voodoo Child.
Frank Miller (nascido em 1957 em Olney, Maryland) é um escritor e desenhista norte-americano conhecido pelo estilo de filme noir de suas histórias em quadrinhos.
Criado em Montpelier, Vermont, Miller tornou-se desenhista profissional e trabalhou para diversas editoras, incluindo a Gold Key, a DC Comics e a Marvel Comics. Ele passou a chamar atenção depois de uma história de duas edições do "Espetacular Homem-Aranha" pela Marvel, ganhando o posto de desenhista regular nas histórias do Daredevil ("Demolidor") onde logo assumiu também o papel de escritor, salvando o título que seria cancelado. Em colaboração com o colorista Klaus Janson, Miller atraiu um número crescente de fãs, foi aclamado pela crítica e conseguiu o respeito da indústria de quadrinhos. Durante seu trabalho em "Demolidor", Miller criou a ninja assassina Elektra, o personagem com os qual ele é mais associado até hoje. Desde então, sua visão do Demolidor permaneceu como a dominante, se estendendo inclusive à adaptação cinematográfica de 2003, que assimilou diversos elementos das histórias de Miller. "A Queda de Murdock", considerada pelos críticos a melhor história do Demolidor foi escrita por Miller e desenhada por David Mazzuchelli.
Frank também é conhecido por produzir trabalhos na categoria propriedade-do-autor. "Ronin", uma história samurai de ficção científica foi a primeira de inúmeras parcerias com sua esposa Lyn Varley. Miller se reveza entre retomar (e redefinir) ícones bem conhecidos como Batman e o Demolidor e criar obras como "Give Me Liberty" com Dave Gibbons e "Hard Boiled" com Geoff Darrow.
Sin City é um trabalho totalmente solo, uma série de histórias sobre o crime feitas em preto e branco publicadas pela Dark Horse Comics, e Ronin. A colorista Lynn Varley colaborou na maioria de suas obras, incluindo "The Dark Knight Returns" (no Brasil "O Retorno do Cavaleiro das Trevas") e em "300", de 1998, que agora está sendo lançado como um filme, seguindo o que Hollywood fez com Sin City.
O trabalho mais conhecido de Miller, dentro e fora da indústria de quadrinhos, é O Cavaleiro das Trevas um conto sombrio de Batman situado em um futuro próximo. Mostrava Batman como um vigilante violento e de certo modo sem escrúpulos, fugindo do campo cômico da série de TV dos anos 60 estrelada pelo super-herói. A interpretação de Miller dominou o personagem por quase duas décadas, influenciando a versão cinematográfica de Tim Burton em 1989 e graphic novels como "Batman: The Killing Joke (no Brasil "A Piada Mortal") de Alan Moore e "Arkham Asylum" de Grant Morrison.
Miller também escreveu inúmeros roteiros para filmes, os mais notáveis sendo "Robocop 2" e "Robocop 3". Depois deste último, Miller afimou que nunca mais deixaria Hollywood fazer adaptações de suas histórias, decepcionado por praticamente nenhuma de suas idéias chegar nas versões finais dos filmes (embora seu nome fosse proeminentemente destacado nos créditos). Mais tarde Miller trabalharia com a Dark Horse Comics, que é dona dos direitos do personagem Robocop, e fez sua própria versão em quadrinhos de "Robocop 3". A posição de Miller em relação às adaptações cinematográficas mudaram depois que Robert Rodriguez (diretor de El Mariachi) fez um curta-metragem baseado em um dos contos de Sin City sem que seu autor soubesse e depois mostrou-o a ele. Miller ficou tão satisfeito com o resultado que decidiu e aceitou adaptar "Sin City" para o cinema. O filme foi filmado utilizando fielmente a seqüência dos quadrinhos e o clima claro e escuro dos desenhos de Frank Miller.

3 – AMOR E GUERRA
É uma história da Graphic Novel do super herói Demolidor, cujo enredo, discute um momento da vida do personagem Fisk o “Rei do Crime”, vilão todo poderoso, que se encontra impotente diante da paixão que sente pela esposa que se encontra doente, acamada sem perspectiva de melhora. Desesperado contrata um marginal afim de seqüestrar a esposa de um famoso médico, com o objetivo de forçá-lo a curar sua amada. O seqüestrador tem problemas e vão se agravando na medida em que se envolve no caso. O único com chances de resolver o problema é o Super Herói Demolidor.

4 - A HISTÓRIA
A história da Graphic Novel do super-herói Demolidor discute um movimento da vida do personagem Sr. Fisk o “Rei do Crime”, vilão todo poderoso, consegue tudo o que deseja, mas está angustiado diante da enfermidade de sua esposa Vanessa que se encontra acamada em estado vegetativo e seu insucesso com a medicina tradicional o faz lançar mão como tábua de salvação de uma alternativa não ortodoxa. Contrata um famoso médico que reside em Paris para curar Vanessa sua esposa. O médico aceita e viaja com sua esposa Cheryl, mesmo insatisfeita, para a cidade de Nova Yorque, onde ele se encontrava. Paul seu marido a convence comentando que por um dia de trabalho o valor a ser recebido é consideravelmente bom.
Ao se afastar para comprar um hot dog, sua esposa é seqüestrada e ele é conduzido a presença do chefão. Ao chegar Sr. Fisk expõe-lhe o caso e faz-lhe um ultimato: a cura de Vanessa pela vida de Cheryl.
A simples contratação não seria suficiente, queria envolvimento total fazendo-o ter a mesma sensação de perda, caso ele não recuperasse a saúde de Vanessa.
Enquanto isso: o super-herói Demolidor ao passar por um bar é perseguido pelos marginais que lá se encontravam e ao se esconder em um bueiro, arrasta consigo um deles, o Túção, que sob pressão confessa que há intenção de eliminá-lo e que o chefão (Sr. Fisk) seqüestrou a esposa de um famoso médico, apontando possíveis cativeiros.
O Demolidor se incumbe de resgatá-la e vai a procura do esconderijo. Victor o seqüestrador que vigia Cheryl, é um lunático dependente de drogas, enquanto aguarda, Inicia um período de alucinações. Imagina os dois (ele e Cheryl), ele como cavaleiro, vestindo uma armadura, ela sendo sua rainha. Ouve um barulho e percebe a presença de alguém e já sai atirando. É o Demolidor, Victor salta pela janela se ferindo, tentando acertar o Demolidor, nesta perseguição sua munição acaba e ele foge se escondendo, o Demolidor aproveita para libertar Cheryl e a leva até sua residência.
Victor necessitando de mais drogas vai a casa de sua irmã Stacy que é enfermeira e por medo, consegue pílulas para ele. Aproveita para fazer curativos nos ferimentos sofridos quando pulou pela janela e se cortou no vidro. Em seguida procura uma biblioteca porque a leitura o acalma. Ao sair, é atropelado por um táxi, anota a placa com o objetivo de processá-lo. Na procura por um advogado encontra o escritório de Nelson e Murdock, entra e antes de sair com um cartão contendo o endereço, aparece a faxineira que é brutalmente assassinada por ele.
Cheryl está na casa de Murdock (Demolidor) aguardando, pois ele foi libertar também o Dr. Paul Mondat seu marido que está trabalhando para curar Vanessa sob os olhos atentos do Sr. Fisk em sua casa que também funciona como escritório muito bem protegida, e se espanta com os avanços do Dr. Paul que a faz recuperar a lucidez, expondo um desejo que destroça o Rei do Crime quando descobre que Vanessa não o ama. Sente ser esfaqueado ao perceber o que sentia Vanessa ao seu lado em seu mundo.
Alucinado Victor (o seqüestrador) encontra a casa de Murdock e arromba a porta, totalmente fora de si. Cheryl para se proteger atinge-o mortalmente com um gancho que alcança perto da lareira que até na hora da morte delira.
Esperando dificuldades e forte vigilância o Demolidor se esforça para entrar no prédio onde o Dr. Paul Mondat deveria estar, mas lá o aguardavam, o Dr. Paul Mondat, sua esposa (Cheryl) com o tratamento pago e Vanessa com nova identidade para viver na Europa.

5 – ARTE NOS QUADRINHOS
Simbolismo
O enredo da Graphic Novel do super-herói Demolidor se encaixa perfeitamente no movimento artístico denominado Simbolismo. O sentimento que aflige o Rei do Crime, Sr. Fisk (fig. 01), em que ele passa a não acreditar mais na medicina tradicional, visto que os seus esforços para curar Vanessa sua esposa, foram em vão, os médicos não obtiveram sucesso e isto provocou um sentimento de descrédito, passa a não acreditar mais na ciência, a partir do momento em que os médicos reconhecem que não podem fazer nada, pois o problema dela não é orgânico pág. 17 (fig. 02). Parte para o lado místico, o sobrenatural e contrata um famoso médico, que não se utiliza da medicina tradicional, mas das forças sobrenaturais que fazem parte da vida da humanidade.
Sua ambição é grande, além de contratar, quer o envolvimento total e para tal, deseja que o médico sofra como ele a dor da perda de um ente querido, acreditando que só assim, terá o envolvimento verdadeiro, o interesse, a paixão, na tentativa de solucionar o problema. Sem pensar nas conseqüências para atingir o objetivo, rapta a esposa do médico Cheryl e através da chantagem, da ameaça, força-o com intimidação, ou salva Vanessa ou também não verá mais sua esposa Cheryl viva.
Os simbolistas ignoram a opinião pública, assim como faz e age Sr. Fisk, que como demonstra em suas ações não liga para o que a sociedade, ou as pessoas pensam dele. A inspiração temática vem de assuntos como a morte e a doença e, é o que está acontecendo na vida dele, com a doença da esposa e o medo de perdê-la, pois há perigo de morte.
Estes são pensamentos do movimento Simbolista que estão inseridos no enredo da graphic novel do super-herói Demolidor.
O tédio, e a desilusão estão presentes em sua vida neste movimento, pois sente-se só, está desenganado perante o amor que sente, por Vanessa, ao constatar que ela não o deseja, não o quer sua vontade é estar longe (Fig. 03).
No simbolismo há interesse pela exploração das zonas desconhecidas da mente humana e da loucura. No enredo de Frank Miller, este interesse aparece na figura do médico Dr. Paul Mondat, visto nas (páginas 39 e 47, fig. 03, 04) e também no comportamento do personagem Victor (o seqüestrador). Desde o momento em que ele aparece com suas atitudes neuróticas, repetindo o nome do médico (páginas 8 e 9 fig. 05 e 06).
Na concepção simbolista o louco é um ser completamente livre por não obedecer às regras, e, Frank Miller, explora muito bem isso, com o Victor, apresentando todo o seu comportamento pervertido (fig. 07), uma busca do “eu profundo” em que inicia sua viagem alucinante com resultados imprevisíveis (fig. 08 e 09), ultrapassando os níveis de razoabilidade
O enredo toca o universo íntimo de cada um, onde reina o caos e a anarquia e que não é revelado as pessoas comuns, senão por meio de recursos indiretos como o sonho, a alucinação ou a psicanálise (fig.10). Como se observa no personagem Victor (o seqüestrador), completamente alucinado, fantasiando tudo, a todo o momento, situações com Cheryl, esposa do Dr. Paul, inclusive fantasias eróticas que é inspiração do simbolismo (fig. 11).
Observa-se também erotismo entre Vanessa e o Demolidor, na cena em que ele a salva e a conduz a sua residência (fig. 12 e 13).
Os simbolistas têm uma visão pessimista da existência, cuja efemeridade, (duração) é dolorosamente sentida. É uma corrente que diz respeito às atividades perante a vida, assunto tratado e desenvolvido no enredo.
A arte de Bill Sienkiewicz, está carregada de simbolismo tanto quanto a de um outro grande artista pertencente ao simbolismo, Gustav Klimt, é um artista moderno, a beleza de seus quadros se destacam pelos motivos florais, pelas formas ornamentais, um estilo que lembra mosaico ou tapeçaria.
Em “A medicina” (1900-07) (fig. 14), Klimt evidencia a incapacidade da medicina face as forças do destino. Esta obra encomendada pela Universidade de Viena provocou críticas hostilidades, e revoltas por parte dos professores que esperavam a representação do triunfo da luz sobre as trevas e receberam, no seu entendimento, uma tela que ilustra a vitória da obscuridade sobre tudo e sobre todos. Klimt mostrou a doença o declínio físico e a pobreza; a impotência da medicina em curar nossos males.
Em “A esperança” I (1903) (fig. 15), aparecem monstros representando o vício, observado no personagem Victor (o seqüestrador), a doença, a pobreza e a morte, mascaras, caveiras e formas maléficas são vistas nesta obra.
O artista simbolista, utiliza-se de cores e linhas, caracterizando-se como elementos extremamente expressivos que por si só representam idéias, típicas das narrativas das histórias em Quadrinhos.
O rosto que aparece isolado do resto do quadro transporta imagem e personagem na direção dos mistérios do inconsciente e dos labirintos do espírito, transforma anatomia em ornamentação e a ornamentação em anatomia para descrever a personagem na total realidade biológica. É uma constante nos retratos de Klimt; a vestimenta é tão importante como o modelo em si. A ornamentação é abundante na arte de Klimt, justificada também, pela razão de sua companheira (Emilie Flöge), possuir uma boutique de moda em Viena e Klimt desenhar a maioria dos tecidos (fig. 16, 17, 18, 19).
A arte decorativa de Klimt é descrita pelo critico Ludwig Hevesi (NÉRET, Gilles, Klimt, ed. Taschen, 1994). – “O ornamento de Klimt é uma metáfora da matéria original, em mutação perpétua, sem fim, que se desenvolve, enrola, redobra em espirais, serpenteia, enrosca, um turbilhão impetuoso que toma todas as formas, zebrados, cintilantes e língua de serpente vibrantes, entrelaçados de videira, véus brilhantes, fios esticados.
A figura humana é transformada num ornamento assimétrico, interligado com temas decorativos, concebido para o ambiente ao qual está destinado e inserido (fig. 2).
É a mesma beleza das formas ornamentais com temas florais visto nas obras de Klimt (fig. 20).
Apresentei a Graphc Novel na escola e o resultado, relata a seguir:
Na página desenhada por Bill Sienkiewicz (fig. 21) é possível observar essa referência direta com as obras de Klimt. No segundo quadrinho, ocupando toda a horizontalidade da página, e em primeiro plano, vemos uma estampa que pode ser um tapete ou uma cortina, como foi descrito pelos alunos da E. E. Prof. Fábio Fanucchi em Guarulhos, escola na qual leciono a disciplina de artes, ao ser apresentado durante a aula, entre outras descrições feitas, pois usei a HQ para que os mesmos refletissem, analisassem, comentassem, julgassem, já que se tratava de um material familiar e que ali via-se desenho, pintura, diagramação, ordenação, mensagem, enfim arte. Seguindo com os comentários dos alunos, que se encontravam empolgados, alguns achando que a aula ainda não havia começado e também ou talvez por isso se envolviam mais e querendo ver o restante da HQ, continuei mostrando a página e ao verem o terceiro quadrinho, os comentários variaram ainda mais, visto que eu demorava pouco tempo exibindo cada quadrinho, antes de perceberem a figura do Sr. Fisk sentada, comentaram que poderia ser um sofá, ou um vaso, foi mostrando outras páginas, como na fig. 06, primeiro quadrinho, alguns acharam que poderia ser uma cortina, outros sugeriram um colchão ou lençol, os comentários e as explicações iam fluindo, outras páginas foram mostradas como a da fig. 22 juntamente com obras de Klimt fig. 23 e fig. 24. Na página 17 fig. 02, o envolvimento foi total por parte dos alunos, que queriam falar, discutir e as interpretações seguiam, uns achando que era papel de parede, outros vaso, tapete, jardim e por aí afora, até o momento em que mostrei por mais tempo e viram melhor do que se tratava. Continuei mostrando obras de Klimt, como a da fig. 25, 26 e mais páginas da HQ como a da fig. 19 e 21, e os comentários não paravam, - é uma cabeça decepada, penas voando, cabeça presa na parede ou pintada na cortina, e mais obras de Klimt fig. 27.
O enredo de Frank Miller também está ligado ao tema do Simbolismo, basta observar a trama, o que os personagens estão passando e vivenciando na história para se dá conta que são características do movimento simbolista.
O conhecimento técnico, artístico e de história da arte é evidente nas obras de Bill Sienkiewicz, que se apropria com o objetivo de realçar o entendimento a compreensão e o sentimento expressos nas páginas das histórias em quadrinhos.

Expressionismo
O expressionismo foi um movimento que surge com um pequeno grupo de artistas franceses e não alemães na apresentação de um catálogo da 22ª Exposição da primavera, organizada pela Secessão de Berlim em 1911. Tirando Picasso, a maioria dos artistas pertenciam ao grupo de Matisse – Braque, Derain, Friesz, Marquet, van Dangen entre outros. Veio se opor ao impressionismo, como movimento que indicava a mais nova tendência da arte.
Nas páginas em que Victor aparece, observa-se a relação com o movimento artístico Expressionista (fig. 28). Vemos pinceladas marcadas, cores fortes, traços expressivos, formas contorcidas e dramáticas intensas emoções, o desenho não tem a preocupação de representar padrões de beleza tradicionais, mas sim exibir o estado de angústia e de dor que caracterizam o personagem, onde é comum o retrato humano solitário e sofredor. Nestes traços pode-se perceber os estados mentais como o ser humano desesperado, personagem deformado, a sobreposição da figura que rechaça o ângulo reto, o cubo, e a pirâmide e todas as formas artísticas (fig. 29, 30 e 31).
Sobre a origem da palavra “expressionismo”, o termo expressão era muito usado no ateliê do pintor Matisse em Paris e foi difundido pelos artistas jovens alemães que fizeram parte do círculo do artista. Matisse afirmava que: -“ A expressão não constitui um espelhamento da paixão sobre um rosto humano ou traído por um gesto violento, desvinculado de considerações formais, em meus quadros, continua ele, todo o conjunto é expressivo. A composição é a arte de dispor de maneira estilizada, os vários elementos disponíveis ao pintor para a expressão de seus sentimentos”. (BEHR, Schulamith. Movimentos da arte moderna – Expressionismo ed. Cosac & Naify São Paulo, 2001, pág. 07).
George Grosz, foi um artista expressionista que utilizou os temas de guerra, baseados na vida metropolitana, cenas de assassinatos e fantasias eróticas, investidas de um teor de violência e pessimismo com no quadro “Suicídio” de 1916 (fig. 32), lançou uma série de 20 litogravuras, usando como foco cenas de estupro, assassinato e insanidade no meio urbano questionando drasticamente a ordem estabelecida, colocando em seu lugar a loucura e a anarquia, observado também nas obras de Bill Sienkiewicz (fig 10 e 33).
Ernst Ludwig Kirchner que produziu a obra “Auto-retrato como soldado” – 1915 (fig.34), enquanto estava internado em um sanatório psiquiátrico, retratou-se vestindo o uniforme azul e vermelho do regimento de artilharia Mansfield. Há um cigarro em sua boca, enquanto o seu rosto confronta o observador, sua mão esquerda segurando uma paleta, o toco amputado de sua mão direita está levantado para captar a atenção do observador, atrás do artista, a figura de uma modelo nua encostada no cavalete.
No enredo de Frank Miller, encontramos uma alusão do austríaco Sigmund Freud, representado na figura do médico Dr. Paul Mondat (fig.35), bem como os expressionistas.
Com a intenção de captar estados mentais, o artista exibe personagens deformados, como o ser humano desesperado de Bill Sienkiewicz (fig. 36) ou sobre uma ponte como se vê em “O grito” do norueguês Edvard Munch – 1863 / 1944 (fig.37).
O artista expressionista distorce exageradamente as formas e aplica a tinta de maneira subjetiva, intuitiva, espontânea, excessivamente emocional, imagens violentas, horror e ansiedade (fig. 38).
Na Alemanha, durante o período de capitalismo e expansão econômica, por volta de 1892 até 1913 a exclusão do artista moderno do treino acadêmico e dos mecanismos do apoio estatal exigiu o estabelecimento de redes alternativas para alcançar o público.
A formação de grupos comunitários, suas relações com marchands particulares os obrigou a se organizarem e começaram a organizar suas próprias exposições apesar do conflito entre as ambições idealistas dos artistas modernos e suas práticas comerciais, lembrando que, a vanguarda foi e é um conceito regido pelo mercado.
Exemplo do grupo, Brück que promoviam suas exposições, conquistavam espaço no mercado competitivo da arte, recrutando mecenas privados para patrocinar artistas (Schulamith Behr – Expressionismo 2001 pag.18).
Gerge Grosz bolsista na academia de Berlim, antes da primeira guerra, reconhecia os conflitos posto ao artista moderno pela vida na Metrópole e comentou: “hoje, a arte é uma mercadoria que pode ser vendida com uma boa propaganda, como qualquer sabonete, toalha ou vassoura e os artistas tornaram-se um tipo de manufatureiro que deve produzir novos artigos em velocidade cada vez maior para alimentar a eterna rotatividade das vitrinas” (Shulamith Behr – Movimentos da arte moderna pág. 48).
Em 1918 um grupo formado pelos artista: César Klein, Morris Melser, Peschtein, Heinrich Richter – Berlim e Gerge Tappert, conclamaram todos os expressionistas, cubistas e dadaístas a se filiarem, foi publicado um novo programa artístico em dezembro de 1918 em jornais de arquitetura e outros dois jornais socialistas declarando:
“ A arte não deve ser mais o prazer de poucos, mas a felicidade e a vida das massas (Shu. 69).lamith Behr – Movimentos da arte moderna (pág 70).

Futurismo
Movimento, velocidade, vida moderna, violência, é o que aparece na página 12 (fig 39), são características do movimento Futurista que vem romper com a arte do passado. As forças mecânicas ou físicas eram fortes temáticas freqüentes nos primeiros trabalhos.
“Postes de iluminação”, obra de Giacomo Balla de 1909 inspirado nos primeiros postes de iluminação elétrica instalados em Roma, cidade em que morava, em resposta inicial ao manifesto de Morinetti e a outros textos contemporâneos, justapõe intencionalmente os raios violentos descarregados em setas multicolores refletidos pela lâmpada (fig. 40).
Observamos estas características também na arte de Bill Sienkiewicz (fig.39), a visão em plano geral da rua com carros, luzes, postes iluminados, raios, velocidade, movimento, usados com toda força, impacto e representatividade, usados na linguagem das histórias em quadrinhos.
O quadro “Saindo do teatro” 1910 – 11 de Carlo Carrà (fig.41), apresenta um mundo metropolitano noturno irradiado de luz elétrica, no qual as figuras humanas espectrais, parecem dissolver-se numa atmosfera multicolor em que o primeiro plano e o fundo se misturam no plano do quadro. A sensação de anticlímax, ao fim do espetáculo é produzida pelas figuras inclinadas para a frente que se dissolvem na noite. Como em muitas pinturas futuristas que apareceram pouco tempo depois, há uma nítida tendência a subordinar o ser humano às forças do ambiente e a sugerir a borradura dos limites entre os indivíduos separados e as formas inanimadas que os rodeiam. O espaço psicológico se funde com o físico.
Os artistas futuristas não podem ficar insensíveis à vida frenética de nossas grandes cidades e à excitante psicologia da vida noturna.
A cor é aplicada em combinações cada vez mais claras e estridentes, conforme sua declaração de que o amarelo continua brilhando em nossa carne, aquele vermelho abrasa e aquele verde, azul e o violeta dançam nela com encantos indizíveis, em voluptuosa carícia.
O homem e seu meio estão numa relação dinâmica constante, na qual o movimento e a luz destroem a materialidade dos corpos (fig. 42) e o meio pelo qual essa relação há de se expressar é a cor do divisionismo, que deve ser uma complementariedade inata, que nós declaramos ser essencial e necessária.
Gino Severini 1883 – 1966 em seu auto-retrato de 1912 (fig.43), mostra que a técnica cubista se torna o veículo deste novo estilo futurista, que continua comprometido com a iconografia do mundo moderno, de um universo dinamicamente interativo do movimento humano em um ambiente técnico modificado, com o poder das cores fortes e até vulgares, os futuristas viram nas construções luminosas e estáticas do cubismo a possibilidade de dar um rumo novo a seu trabalho, com uma representação verdadeiramente dinâmica de um mundo de movimento e emoção.
A moldura preto e branco, em formato de “vê” do quadro “Ritmo do violinista” 1912 de Giacomo Balla (fig. 44), sugere que a pintura fazia parte desse esquema decorativo. Seu efeito sobre a composição enfatiza o movimento ascendente do instrumento, do arco e das mãos do músico. As linhas finas e meticulosamente pintadas, estendendo os pontos do divisionismo com a intenção de sugerir movimento, evocam uma forma de cronofotografia, tão característico das narrativas gráficas, pois as histórias em quadrinhos exploram bastante o requadro ( quadrinho) como elemento expressivo, bem como as linhas que expressam movimento, velocidade, ação.
Giacomo Balla fez vários experimentos e estudos cromáticos abstratos. Sua intenção, parece ter sido provocar sensações quase espirituais no observador.
Em “Velocidade abstrata o carro passou” (fig. 45), parte de um tríptico, a paisagem simplificada torna-se pano de fundo de uma série de linhas de força tingida do róseo dos vestígios dos gases do escapamento sugerindo a perturbação atmosférica provocada pelo automóvel, agora ausente no painel central.
O manifesto “A pintura dos sons, dos ruídos e dos odores” de Carlo Carrà, publicado na revista florentina de vanguarda Lacerba, em 1913, propunha que: “Os sons, os ruídos e os odores se incorporam na expressão das linhas, volumes e cores, nas estações ferroviárias, nas garagens e em todo o mundo mecânico e desportivo, o som, os ruídos e os odores são predominantemente vermelhos (fig. 46), nos restaurantes e nos bares, prateados, amarelos e azuis, os da mulher são verdes, azuis e violeta. Características fundamentais das narrativas gráficas denominada “onomatopéia” (fig. 47).
Acompanhando o Manifesto dos músicos futuristas de Francesco Balilla Pratella 1910, Luigi Russolo publicou também “A arte dos ruídos” 1913 , e se orgulha do fato de não possuir treinamento musical, afirmando que isso lhe permitia realizar uma grande renovação na música mediante a reação aos ruídos do mundo moderno.
Luigi Russolo inventou máquinas que incluíam: estouradores, crepitadores, zumbidores e arranhadores; percorriam a Itália e países europeus apresentando obras como: O despertar de uma cidade e Encontros de automóveis e aeroplanos.
O movimento futurista englobava a tecnologia moderna, os fenômenos espirituais e paranormais e o conceito de arte integrada a vida.
Antecipando o conceito de Le Corbusier de casa como máquina de morar, Antonio Sant’Elia descreve: “Um re-desenvolvimento fantástico de uma cidade norte-americana como Nova Iorque, na qual a decoração é abolida os arranha-céus dominam e se concebe a vida como uma síntese estonteante das forças verticais com as horizontais (fig. 48): A rua já não se estenderá feito um dormente ao nível do solo, mergulhará muitos andares no subsolo, envolvendo o tráfego metropolitano, e se articulará com a superfície, por meio de passagens metálicas e pavimentos móveis e velozes.
Os artistas futuristas deparavam-se com o problema de representar a velocidade em objetos parados, a solução foi representação em múltiplos movimentos (fig. 49).
A coragem, a audácia, a rebelião, são elementos da poética do futurismo representado nas páginas da HQ, que também fala do amor ao perigo, da temeridade.
Consta do manifesto futurista e parece uma descrição do argumento da graphic novel que mostra o movimento agressivo, o salto mortal, a bofetada, o sopapo e a insônia febril (fig. 50).
Ainda de acordo com o manifesto, ” não há beleza senão na luta. Nenhuma obra que não tenha um caráter agressivo pode ser considerada obra-prima.
A poesia deve ser concebida como um violento assalto contra as forças inatas, para reduzi-la a prostrar-se perante o homem.
A forte e sã injustiça explodirá, em seus olhos. A arte, de fato, não pode ser senão, violência, crueldade e injustiça. (fig. 51)
O futurismo, movimento estético surgido no início do século XX em oposição às fórmulas tradicionais e acadêmicas, teve no escritor italiano Filippo Tommaso Marinetti – 1876 / 1944, seu fundador e principal teórico. Marinetti nasceu em 22 de dezembro de 1876 em Alexandria, Egito. Estudou em seu país e depois na Itália, Suíça e França, onde viveu muito tempo. Em 20 de fevereiro de 1909 publicou no jornal Le Figaro, de Paris o primeiro manifesto futurista, em que expunha a necessidade de abandonar as velhas fórmulas e criar uma arte livre e anárquica, capaz de expressar o dinamismo e a energia da moderna sociedade industrial.
O escritor Stephen Kern descreveu uma série de mudanças radicais na tecnologia e na cultura que criaram maneiras distintamente novas de pensar e viver o tempo e o espaço: “As invenções Tecnológicas como o telefone, o telégrafo sem fio, os raios X, o cinema, a bicicleta, o automóvel e o avião constituíram o fundamento material dessa reorientação; os desenvolvimentos culturais independentes, tais como o romance de fluxo da consciência, a psicanálise, o cubismo e a teoria da relatividade, moldaram diretamente a consciência. O resultado foi a transformação das dimensões da vida e do pensamento. Os futuristas em particular predispunham-se à luz de tais mudanças.
Sua visão de uma nova Itália baseava-se na experiência material e cognitiva, compartilhada em maior ou menor proporção por todos os seus compatriotas. Decerto não eram os únicos a observar o significado dessas novas condições, porém tratavam-na com um propósito intelectual estético que era único no enfoque e nos meios técnicos.
As máquinas, a força vital do capitalismo, e o impulso sexual violento estavam indissoluvelmente ligados, na imaginação futurista as forças históricas contra as quais eles achavam inútil lutar.
No manifesto de Marinetti: Todas as coisas se movem, tudo corre, tudo está em rápida mudança.
Por força da persistência de uma imagem na vitrina, os objetos se movimentam se multiplicam constantemente; suas formas se alteram como rápidas vibrações em enlouquecidas disparadas. Assim um cavalo a galope não tem quatro patas, e sim vinte, e seus movimentos são triangulares. Para pintar uma figura, não se deve pintá-la, deve-se apresentar o conjunto da atmosfera que o cerca.
Os pintores nos mostravam os objetos e as pessoas colocadas diante de nós. Nós daqui em diante poremos o observador no centro do quadro.
O sofrimento humano oferece o mesmo interesse que o de uma lâmpada elétrica que, com estremecimentos espasmódicos, grita as mais comoventes expressões de cor.
Alguns movimentos artísticos tiveram curta duração, cada um travou suas batalhas, encontrou resistência, lutou pela sobreviver para ser reconhecido, bem como a História em Quadrinhos que também brigou, procurou espaço, foi combatida, rejeitada, discriminada; por suas qualidades, força, penetração e importância para a sociedade, se firmou, conquistou espaço; está cada vez mais viva, atuante e se modernizando de acordo com os avanços da tecnologia, é uma das manifestações mais reproduzidas no mundo, acessível, principalmente para o público jovem que se transforma junto e carece de material de qualidade, que fala a sua língua, por mais que o tempo passa está sempre atual.
6 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apreciando de maneira prazerosa, lendo, observando as imagens sem esforço, é possível usar a Graphic Novel Demolidor – Amor e Guerra de Frank Miller e Bill Sienkiewicz, na sala de aula demonstrando, comparando, refletindo e analisando as imagens (desenhos) com estes movimentos artísticos contemporâneos, bem como o que cada um transmite na sua essência usando criativamente já que a revista é acessível aos jovens do ensino médio que aceitam sem nenhuma rejeição e a partir desta proposta repassar os conhecimentos destes movimentos: simbolista, expressionista e futurista.
É evidente que não é qualquer revista que se pode usar didaticamente, assim como existem literaturas, filmes, músicas que não possuem qualidade existem também revistas de histórias em quadrinhos ruins (nesse caso, podem ser usadas para desenvolver o senso crítico).
Cabe ao especialista (professor) selecionar o material mais adequado as suas necessidades. Uma escolha bem feita trará excelentes resultados tanto para os alunos como para o professor, pois assim ocorrendo, o processo se desenvolve em perfeita harmonia, entendimento e satisfação, se completando, pois as HQ’s fazem parte diretamente das Artes Visuais.
O contato direto com materiais contemporâneos, que o aluno pode encontrar perto de sua casa, não só em museus, galerias ou livrarias, mas e acima de tudo em um jornaleiro vizinho a residência, torna a arte de aprender mais prazerosa, significativa, atraente e a assimilação fica mais fácil. Cada revista de HQ pode conter mais de um exemplo de movimento artístico, isso dependerá do critério de escolha, e o professor pode ainda trabalhar temas transversais ou ações interdisciplinares, proporcionando o entendimento da arte com as produções artísticas e estéticas de seu tempo.
A produção das Histórias em Quadrinhos ou Arte Seqüencial requer conhecimento, estudo, técnica, visão, capacidade criativa e expressiva, conhecimento das várias linguagens, da tecnologia disponível, cultura geral e muita sensibilidade, encontrando sempre maneiras diferentes de também fazer aquilo que outros já fizeram.
É através do estilo pessoal que o artista se diferencia, levando em consideração o estilo da escola, o estilo do país e do ambiente vivido.
A História em Quadrinhos se firmou é reconhecida, são produzidas cada vez mais obras-primas e dado o devido reconhecimento aos artistas. A autoridade maior do reconhecimento de uma obra de arte é o Museu, e este já legitimou. Surgiram movimentos artísticos na cola das Histórias em Quadrinhos, se apropriando das imagens e das técnicas é o caso da Pop Art.



7 – Referências bibliográficas
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EISNER, Will. Quadrinhos e arte seqüencial. São Paulo: Martins Fontes, 1989.
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LUYTEN, Sonia M. Bibe. História em quadrinhos Leitura Crítica. São Paulo. Ed. Paulinas. 1984
CIRNE,Moacy A linguagem dos quadrinhos. Petrópolis, Ed.Vozes 1975
VASCONCELOS, Nanci Pereira de, Manual para edição de trabalhos acadêmicos. São Paulo, Ed. 2002
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McCLOUD, Scott. Reinventando os quadrinhos. São Paulo, ed. M. Books do Brasil. 2006
NÉRET, Gilles.Gustav Klimt. Alemanha, ed. Taschen
BEHRT, Shulamith.Movimentos da arte moderna – Expressionismo. São Paulo, Ed. Cosac & naify. 1999
HUMPHREYS, Richard. Movimentos da arte moderna – Futurismo. São Paulo,ed. Cosac & naify. 1999

QUADRINHO VIRTUAL / PROFESSOR REAL

Resumo

O projeto propõe a construção de um portal na internet para capacitar professores da rede pública de ensino à distância, especializado na linguagem das Histórias em Quadrinhos, voltado ao sistema educacional, estruturado nos moldes acadêmicos de pesquisa científica de forma a dar condições plenas para conhecer, entender e usar as histórias em Quadrinhos na escola. Tal portal possibilitará o estudo, sanar dúvidas e atualização acerca do universo dessa linguagem artístico-literária.


Introdução

Para a mediação e motivação, de modo a que se auxilie a tomar gosto pelas aulas, sempre há algo ou alguém que possa auxiliar nesse processo. Ainda mais, quando esse algo ou alguém é conhecido, familiar, faz parte do “hall” de amizade e é admirado pelo aluno.
O fato de sermos seres sociais e gregários justifica a relação e identificação com parceiros. Percebe-se isso nas histórias de adolescentes que extrapolam seus limites, demonstrando atos de ousadia simplesmente por fazerem parte de um determinado grupo, como as gangs que se sentem invencíveis quando se reúnem. São exemplos parecidos com estes que mostram a importância da parceria como elemento encorajador. Porém, tais relacionamentos podem resultar de forma produtiva, o que dependerá do equilíbrio mediado pelo uso do conhecimento, dos objetivos, principalmente dos que fazem parte do arcabouço escolar acadêmico.
O mediador a que me refiro, pode ser um herói preferido, o personagem escolhido espontaneamente, presente no momento em que se deseja, vivendo juntos as maiores aventuras, ultrapassando limites diante de situações inusitadas, admirado e respeitado, travando diálogos, discutindo pontos de vista em comum.
Um companheiro assim, mesmo virtual, fortalecerá a relação do adolescente, ao se espelhar em sua bravura, dando confiança para encarar desafios reais. Esses personagens possuem, quase sempre, uma característica marcante que permeia o universo de cada um de nós e por isso nos lembramos dos heróis de infância estampados nas páginas das Histórias em Quadrinhos.
Tal envolvimento mostra o quanto é importante trabalhar essa relação no desenvolvimento da vida escolar, evitando um rompimento, prejudicial nesta fase que caracteriza o rito de passagem para a consciência adulta.
Neste caso, há o professor, e importante se torna sua presença para auxiliar neste encontro entre o aluno e seus heróis.
No respeito à individualidade do aluno, este professor mediador é o companheiro real unindo-se ao grupo, incentivando as relações do saber, das descobertas, cúmplice das histórias e aventuras dos e com os heróis, que os levarão a um mundo cheio de diversidades culturais.
O adolescente “ouve” e dialoga com seu herói e amigo, em contra-partida à linguagem escrita comum aos livros. O mediador real (o professor), consciente desta linguagem, dará continuidade a esse processo, no qual várias leituras estão presentes, cabendo a ele situá-las, romper as relações entre o adolescente e seu herói virtual, dando continuidade à jornada que instintivamente pode levar também ao encontro de outros grandes clássicos da literatura mundial.
Ampliando o círculo de amigos mesmo virtuais, mais heróis com outros anseios, desejos e novidades tornarão seu repertório cultural mais rico, dando subsídios para a reflexão, criatividade e visão de mundos diferentes.
O herói ou amigo virtual a que me refiro, está nas páginas das Histórias em Quadrinhos, velha conhecida de todos, que o adolescente lê tranqüilamente, identificando-se com este universo de fantasias, repleto de realidades.
O que atrai a atenção destes jovens? Serão as imagens, o dinamismo das figuras, a composição dos quadros, as linhas expressivas, a tipologia, a forma narrativa, os personagens cativantes, as onomatopéias, os balões, os splashs, todos juntos? Como expressão de arte, as HQ são necessárias, pois contribuem para a melhora do ensino, já que são artísticas e de conteúdo interdisciplinar, além de atuarem no hemisfério direito criativo (Andraus, 2006), sendo que o ensino tradicional pecou por usar textos racionais cartesianos exclusivamente, os quais incidem no hemisfério esquerdo, tirando a emoção, o prazer na aula, e afastando a atenção dos alunos.
Este projeto pretende propor e responder a muitas outras questões relacionadas ao mundo das Histórias em Quadrinhos, proporcionando o conhecimento necessário para o professor usá-las eficazmente em prol da educação, mediando e orientando numa jornada inter e transdisciplinar, dentro de um momento em que o sistema de ensino procura opções para melhorar sua qualidade e resolver o problema da evasão escolar.
O ensino precisa de arte (e subjetividade), pois o homem não é um robô: e assim, as HQ atraem e podem ser usadas já que despertam o interesse (como a própria Internet) com seus desenhos, possuem cor (geralmente) e trazem humor e emoção. E elas, as HQ, são cada vez mais usadas em escolas e indicadas pelo PCN e MEC. Mas ainda os professores não sabem usá-las, pois devido ao preconceito que ocorreu desde 1950 até 1970 e início de 1980, só agora elas estão sendo redescobertas como valiosas fontes de informação e diálogo com os alunos.A Internet, igualmente, é a mais nova fonte "colorida" que atrai a todos, principalmente os jovens: unir histórias em quadrinhos e Internet ao processo de ensinar sua linguagem na rede virtual da web será algo imprescindível, atualizado e bem interessante, pois vai ao encontro dos cursos de capacitação e outros, como os via EAD (educação à distância).


Objeto

O objeto da pesquisa é a linguagem das histórias em Quadrinhos, importante meio de expressão, divulgação, reflexão, educação, criação, informação, lazer e de comunicação de massa. Além de promover a língua portuguesa como língua materna, pode integrar nossa identidade, ajudando no processo de produção, recepção e interpretação.
Conforme alertam os PCNs:

Se a escola pretende estar em consonância com as demandas atuais da sociedade é necessário que trate de questões que interfiram na vida dos alunos e com as quais se vêem confrontados no seu dia-a-dia (2003, p. 640).

As HQs fazem parte da realidade cultural e seus temas são confrontados e percebidos no dia-a-dia.
O professor está em contato permanente, criando situações e procurando inovar, a fim de manter o interesse e obter a atenção dos alunos na sala de aula, o que não é tarefa fácil, já que a situação se complica durante o ano, ao tentar manter o ritmo dos 200 dias letivos. Adquirir novos repertórios o ajudará nesta empreitada.
Na escola em que leciono
[1], me deparo com colegas professores, solicitando orientações e sugestões para desenvolverem trabalhos usando as HQs com os seus alunos. Ao explanar sobre o assunto, falando dos gêneros literários, temas científicos, filosóficos, documentais, mostro álbuns como Maus de Art Spiegelman, sintetizando seu conteúdo, que explora a história (os campos de concentração da segunda guerra mundial), falo de Gen Pés Descalços de Keiji Nakazawa (e os sentimentos de um sobrevivente à bomba nuclear), os quadrinhos europeus, de tratamento mais artísticos, bem como de trabalhos feitos aqui por brasileiros, expondo também as facilidades em trabalhar e produzir hqs, sem a necessidade de saber desenhar; geralmente me deparo com expressões de espanto e a alegação do desconhecimento global, confessando só terem conhecimento do que presenciam nas bancas de jornais: A Turma da Mônica e os Super-heróis (situações estas constatadas nas escolas onde leciono).
No ensino superior, percebi o interesse de alunos da graduação de áreas distintas em se apropriar delas para contextualizar fatos históricos, geográficos, ideológicos e não ideológicos, gerando um grupo de estudos que teve a participação efetiva minha e do professor Dr. Gazy Andraus, ao palestrarmos em evento interdisciplinar promovido pelos cursos de História e Geografia (Geohistória) realizado na UNIFIG, Centro Universitário no qual somos professores.

“A escola perde a exclusividade de divulgadora do conhecimento, papel que hoje compartilha com os meios de comunicação – ela não consegue mais enxergar sua missão original, que é debater e realizar o bem comum e as políticas sociais, culturais e educacionais.” (Celso Favaretto – Nova Escola nº 207 novembro de 2007 – pg 38).

O potencial que os quadrinhos oferecem na área da educação, permeiam os temas transversais presentes nas HQs, onde cada história selecionada pelos professores, pode trazer diversidades culturais presentes, como nas páginas de Asterix mostrando a cultura romana, Tintin com paisagens muitas vezes desconhecidas da maioria dos educandos, o caipira na ótica de Chico Bento, o folclore da Turma do Pererê de Ziraldo, as atualidades das tiras de jornais com Laerte, Angeli etc.
Sendo um veículo de comunicação de massa (mas não só), se enquadra nos valores democráticos com respeito aos conhecimentos que são construídos pelo aluno como alguém capaz, expresso nos PCNs como conteúdos conceituais. Assim, as HQs ativam as capacidades intelectuais para operar com símbolos, idéias, imagens e representação de realidade.
Usadas em projetos interdisciplinares as HQs abrangem todas as áreas do conhecimento dando unidade aos saberes. A leitura da HQ é intuitiva, racional, estimula o uso da imaginação e dá prazer, trabalhando ambos hemisférios cerebrais: o do direito, com as imagens, e o do esquerdo, com os textos fonéticos (Andraus, 2006). Elementos que o professor pode usar, envolvendo o educando na busca do conhecimento.
A emoção permeia o universo das HQs envolvendo o ser humano, que é um ser complexo, conforme esclarece Morin (2000).
Nas suas narrativas gráficas, as HQs trazem temas, cujos valores se fundamentam na sociedade. O professor, ao trabalhar essas características deixando o aluno expor seu ponto de vista, suas escolhas, incluindo novos companheiros virtuais, de diferentes perfis, amplia seus horizontes aproximando e contextualizando a teoria com as práticas.
Porém, apesar de incentivo dos PCNs, e da aquisição de quadrinhos para bibliotecas de escolas do governo, é necessário que os professores apreendam a real utilização dos quadrinhos, explorando sua linguagem imagético-literária e contextualização nas necessidades humanas de ordem cultural.

Justificativa

Dessa forma, o portal com aulas virtuais terá o objetivo de suprir a falta de capacitação na linguagem das HQs dos professores que não estão usando ou não sabem usufruir deste meio de comunicação de massa encontrado em bibliotecas, livrarias, bancas de jornais e Internet. Se houver identificação dos alunos por algum personagem, já que o processo de leitura ocorreu, o interesse o levará a outra leitura, procurando com o tempo, personagens e histórias mais complexas, intercalando com os livros. Afinal, ambos existem para vários públicos distintos: infantil, juvenil e adulto, bem como em diversos gêneros literários, tais como ficção: terror, entretenimento, divulgação científica etc, como na maioria das linguagens conhecidas (cinema, música, teatro, pintura etc). O professor não pode ficar alheio às linguagens contemporâneas, nem excluir uma em detrimento da outra, pois todas contribuem para a construção da cidadania e dos saberes.
A informática - mais nova das mídias - faz parte do cotidiano e do mundo do trabalho, pois antes de ser um produto de mercado, é uma prática social, promovendo o desenvolvimento tecnológico dos países, visando a solução de problemas pessoais e sociais. Com a consciência e o uso crítico destas tecnologias, as conexões da rede virtual se multiplicam beneficiando as relações humanas, confirmando a necessidade para a qual foram criadas.
Com a chegada da TV digital, pretende-se migrar para esse veículo, aproveitando todas as potencialidades tecnológicas disponíveis no momento.
Ana Amália Barbosa, no livro Inquietações e mudanças no ensino de arte (Cortez, 2003, p.105), diz:

Quando aprendemos algo, aprendemos melhor ou fixamos melhor na memória se o relacionarmos a um evento, pessoa ou a outro conhecimento. Raramente as pessoas irão aprender sem fazer relações com conhecimentos já de antemão adquiridos.

Cada pessoa difere na percepção de informações: com as crianças e jovens não é diferente. Umas são mais visuais, outras mais auditivas e outras sinestésicas. Os Quadrinhos contribuem com essas maneiras especiais de aprender, ver e estudar.
Esta arte se encontra à disposição com um vasto material, fruto de pesquisas, espalhados pelas universidades do país. O projeto propõe interligar esses conteúdos catalogando num único portal virtual, acessado ao toque do mouse. Exemplos não faltam: atualmente, um projeto na área da faculdade de educação da Universidade Metodista de São Bernardo, conduzido pelo prof. Dr. Elydio dos Santos Neto propõe a produção por parte dos mestrandos, fanzines, materiais alternativos que estão atrelados aos quadrinhos e à Internet, e que vêm crescendo conforme também pude observar na 13ª Fest Comics
[2] (2007), num stand repleto de publicações independentes com boa qualidade gráfica. De forma similar ao livro, aos quadrinhos e ao Fanzine, existem os Blogs, Fotologs e comunidades, nos quais esses jovens criam e buscam informações imagético-textuais na Internet.
Este site de capacitação, ponto principal do projeto aqui em questão, estará sempre sendo atualizado e terá um “Chat” que permitirá aos professores escrever e tirar dúvidas.
O projeto pode também ser um piloto-experimental vinculado ao MEC ou ao governo, na questão da educação, auxiliando-o no momento em que precise adquirir material para as bibliotecas. Não basta comprar e deixar na escola, é preciso ensinar a usá-las e acima de tudo saber o que comprar. Para isso ele pode contar com a orientação de profissionais especialistas na área. No site, pode haver links, ou mesmo participação direta de especialistas e estudiosos como os núcleos de pesquisa. Num deles - do qual faço parte -, o NPHQ
[3] – Núcleo de Pesquisas em História em Quadrinhos da USP, podem ser encontrados artigos de pesquisadores, como do Prof. Dr. Waldomiro Vergueiro que organizou e publicou o livro “Como usar as Histórias em Quadrinhos na sala de aula”. Em outro, o blog especializado em quadrinhos do jornalista e Dr. em Letras Paulo Ramos, vê-se a notícia publicada em 1 de novembro de 2007 "Professor precisa ser alfabetizado em quadrinhos, diz especialista[4]", confirmando a necessidade de assistência adequada aos professores que querem usar histórias em quadrinhos, indicando a premência de se criar algum projeto nesse quesito, como é o caso desse portal em questão.

Hipótese

O ensino está desatualizado, haja visto as reportagens na ocasião em que o PISA
- programa internacional que mede o nível de ensino dos países - apontou o Brasil, como um dos piores do mundo neste quesito.
As Histórias em Quadrinhos e a internet são linguagens jovens e atualizadas, ideais aos adolescentes. Os Quadrinhos fazem parte da vida dos alunos facilitando o diálogo, gerando reflexões acerca dos temas universais abordados.
É sempre bom lembrar que o jovem é um ser ativo, inserido no mundo, dono de seus desejos, sonhos, necessidade de brincar, fazendo escolhas, tendo preferências e agregando valores. O que está à sua volta, deve ser encarado como objeto cultural. Aonde a criança vê recreação, lazer, brincadeira, o professor vê cultura, oportunidades, diversidades, aprendizagem.
O jovem tem necessidade de expressão, haja vista as intervenções encontradas nas paredes e muros espalhados pela cidade, com os grafites. Ele quer aparecer, criticar, gritar: os quadrinhos podem ser seu veículo de comunicação, sua válvula de escape, basta apresentá-lo e apontar o caminho.
Não só, a inteligência humana é neuroplástica, e ao sistema cartesiano imprescinde-se a informação artística promovendo a interação dos hemisférios cerebrais, como aponta Andraus (2006) em sua tese de doutorado.
Para que este ensino se atualize, o professor precisa conhecer, dominar e usar eficazmente as ferramentas atraindo o interesse e a atenção para obter bons resultados.
O projeto apresentará as ferramentas que são desconhecidas, sua importância, abrangência no mundo globalizado ensinando como usar as histórias em quadrinhos, isto aliado à Internet, promovendo uma ampliação do aprendizado, já que implica em uso coadunado entre as HQs e a rede virtual, cada qual com suas qualidades e especificidades. Dessa forma, com o portal, os professores se aprofundarão no tema, sanando todas e quaisquer dúvidas sobre o assunto. Portanto, a construção de um portal na internet para ensinar, apresentar, usar e entender os Quadrinhos, é essencial.


Objetivo principal

Este projeto pretende a construção de um portal especializado em HQs, voltado ao sistema educacional, estruturado nos conceitos acadêmicos de pesquisa científica, acessível 24h por dia, visando a formação de professores à distância permitindo-lhes o estudo e reconhecimento da linguagem das HQs, tirando dúvidas no momento que convier ao seu usuário. Isso dará condições plenas para conhecer, entender e usar as HQs na escola.

Objetivo secundário

Com o acesso inicial via Internet, escolhido pelo seu poder de alcance ilimitado, possibilitando o atendimento de um número elevado de professores num período de tempo reduzido, a tecnologia disponível permitirá conhecer o universo de professores comprometidos com a formação escolar, servindo de parâmetro para cursos futuros, podendo constatar ou não a precariedade do seu uso. Assim, há também a pretensão de localizar as produções de cada região do país, a fim de perceber o quanto a rede virtual pode alcançar.


Metodologia

Através de questionários e entrevistas em escolas do estado, especificamente no município de Guarulhos, pretendo diagnosticar o conhecimento do universo e linguagem das Histórias em Quadrinhos pelos professores da rede de ensino, para verificar seu entendimento ou não sobre os quadrinhos.

Com os dados obtidos dessa amostragem, será elaborado um portal na Internet com várias janelas distintas a fim de facilitar o estudo e entendimento dos elementos envolvidos na linguagem das Histórias em Quadrinhos.
Cada janela abordará um tópico específico indo desde o histórico resumido da:

-história das HQs,
-a estrutura da linguagem das HQs,
-denominações da HQ pelo mundo,
-diferença ou semelhança das Hqs para outras artes, (literatura, cinema, -teatro, música, pintura, escultura etc.),
-gêneros literários imagéticos,
-faixas etárias,
-HQs comerciais e autorais,
-estilos e gêneros de HQs (super-heróis, mangá, europeu, filosófico-ciesntíficos, cômicos etc),
-como ler e interpretar as HQ
-Como trabalhar HQ em sala de aula,
-Quadrinhos para quem sabe desenhar,
-Quadrinhos para quem não sabe desenhar,
-aula de desenho (direcionada às Histórias em Quadrinhos)
-criação de personagem,
-roteiro,
-atualizações de HQ lançadas,
-HQ de entretenimento,
-HQ de divulgação,

-títulos HQ e as disciplinas (direcionando títulos para as disciplinas regulares)
Pode haver interação entre os professores e pesquisadores, e suportes, dependendo da ampliação do portal. Em alguns dos itens acima, há a possibilidade de uso pelos alunos, tanto quanto pelos professores.
Muitos itens podem ser re-atualizados, inclusive pelos membros do NPHQ – Núcleo de Pesquisa em História em Quadrinhos – ECA USP, do qual faço parte como pesquisador.



Considerações finais

Desde os primórdios das civilizações, o homem vem contando a sua história, registrando nos mais diversos suportes suas idéias, comprovando sua vocação: de que somos seres narrativos. Gostamos de contar e conhecer outras histórias. Hoje esse fato é constatado pelo sucesso de audiência visto nos programas de tevê (BBB, Márcia, Gasparetto etc), pelos contadores de histórias que vêm se destacando, pela academia solicitando a história de vida com o Memorial, os comentários dos vizinhos, referente aos personagens das novelas, os próprios boatos ao serem reinterpretados. Tudo isso consolida a arte de contar história, informando, educando, emocionando, criticando, seja na linguagem sonora, corporal, verbal, visual, tátil, ou juntas, que totalizam a expressão comunicando idéias.
As histórias em Quadrinhos, assim como outros meios, estão cumprindo o seu papel. É necessário apresentar esse universo desconhecido para um número maior de espectadores que, como eu, não tinham acesso. Precisei de bastante pesquisa para conhecer HQ diferentes, com outras narrativas ricas em conteúdo, bem diferentes das que via nas bancas de jornais. Também percebi que o número de editoras nacionais publicando HQ de autores estrangeiros, mas igualmente brasileiros, está bem maior de poucos anos para cá. Isto é ótimo, pois vai ao encontro de se ter um portal que enfileire tais obras e as especifique e indique aos professores, ensinando a usar seu conteúdo e entendendo sua complexidade estrutural (embora aparente ser simplificada). Como um último exemplo, o autor Spacca lançou a HQ “Santô e os pais da aviação”, sobre os pioneiros da invenção dos aviões, obviamente com um viés mais próximo de Santos Dumont. Seu traço caricatural alegra a leitura, cheia de humor, mas totalmente baseada em pesquisa no assunto. Tal obra, inclusive, foi indicada e recomendada para uso em sala de aula pelo MEC. Porém, os problemas sabem do potencial da obra? Realmente conhecem o alcance que ela pode atingir?
As HQs trabalham os dois hemisférios cerebrais fundamentais para uma vida equilibrada. O equilíbrio entre a razão e a emoção, favorecem o desenvolvimento das habilidades necessárias a qualquer atividade humana, tanto física quanto mental, portanto, seu uso na educação no trabalho e no lazer são tão importantes quanto quaisquer outras fontes tradicionais de informação, até agora utilizadas pelo ensino.
É hora de expandir, e contribuir para isso.

Bibliografia

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BAGNARIOL, Peiro. BARROSO, Fabiano. PORTELLA, Pedro. VIANA, Maria Luiza. Guia ilustrado de Graffitti e Quadrinhos. Belo Horizonte: 2004.

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RAMA, Ângela (org), Waldomiro Vergueiro (org), Alexandre Barbosa, Paulo Ramos, Túlio Vilela. Como usar as histórias em quadrinhos na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2004.

[1] E. E. Coronel Ary Gomes
[2] Feira comercial de quadrinhos, promovida por uma livraria especializada de São Paulo, a Comix.
[3] http://www.eca.usp.br/nucleos/nphqeca/nucleousp/home.asp
[4] blogdosquadrinhos.blog.uol.com.br